Igreja Matriz São José da Lagoa
Conheça a história de um dos maiores símbolos de Nova Era, a igreja Matriz de São José da Lagoa. Um patrimônio tombado pelo IPHAN, construída anterior ao ano 1754.
Publicado em 04/05/2017 08:29 - Atualizado em 16/06/2017 15:46
Igreja Matriz São José da Lagoa
A Igreja Matriz São José da Lagoa foi construída anterior ao ano 1754.
Em 03 de setembro de 1754, Domingos Francisco Cruz, morador em uma área de mineração denominada “Passagem” (hoje Bairro Santa Maria), através de escritura pública lavrada no Cartório do arraial de Nossa Senhora da Conceição de Catas Altas (Diocese de Mariana), fez ao “Glorioso Patriarca São José” a doação de “uma roça cita na dita (freguesia São Miguel do Piracicaba) para patrimônio de sua Nova Capela”. Na escritura e em petição refere-se à capela como existente, “construída pelos moradores a quase um ano e nela se celebra o Santo Sacrifício da Missa em altar portátil e como esteja acabada necessita de se benzer.”
A construção da igreja foi iniciada por volta de 1766, pois a capela existente não comportava mais a população local que havia aumentado muito.
Recebeu sua primeira benção em 10 de novembro de 1768, realizada pelo Padre Antônio Pereira Moura Vasconcelos. Seu sino maior data de 1795.
A igreja construída no período colonial, em seu processo evolutivo foi ampliada e a sua capela-mor foi redecorada em estilo rococó, sendo um trabalho do final do século XVIII.
O processo evolutivo continuou até o início do século XX e, talvez, uma de suas últimas transformações tenha sido a escada em espiral, feita por um marceneiro (não se sabe o nome) da comunidade de “Pedra Furada”.
A maior transformação realizada na parte física da construção ocorreu no momento de sua passagem de capela (quando a localidade ainda era Curato) para paróquia, em 1848.
Em 11 de agosto de 1923 a energia elétrica chegou a Matriz São José da Lagoa.
Consta que em 1941, foram feitas obras de reconstrução e restauração, pois o edifício estava danificado e adulterado. A importância histórico-cultural do monumento novaerense foi reconhecida, sendo efetivado o tombamento individual da Igreja pelo IPHAN (Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e inscrito no Livro de Belas Artes em 17/03/1953. O tombamento do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Matriz foi inscrito no Livro Arqueológico Etnográfico e Paisagístico, em 17/12/1973.
Quando o Sr. D. B. Aloísio Magela – Dd. Embaixador da Santa Sé junto ao governo brasileiro, aqui esteve, em visita a Minas em 1937, ao conhecer a Matriz, chegou a comentar que “em poucas Igrejas do Brasil há um altar tão lindo e precioso”, referindo-se ao retábulo colateral dedicado à Santana Mestra e São Francisco das Chagas.
Em 1989, a Casa da Cultura lançou o projeto de reforma da Igreja Matriz, e os trabalhos iniciaram em 1990, sendo contratadas firmas especializadas para a realização das obras, entre elas o Grupo Oficina de Restauro, de Belo Horizonte. A Casa da Cultura tem sido a coordenadora dos trabalhos e, inclusive, canaliza a verba necessária para o empreendimento. Para tanto, criaram campanhas de arrecadação financeira; em uma delas, confeccionaram e venderam camisetas, convidando a população a abraçar a campanha “SOS Matriz de São José”; em outra iniciativa, promovem, o “Pastel de São José” que é vendido após as missas de quarta-feira, e em eventos que acontecem na Praça da Matriz.
No início da obra houve a intenção de se contratar um arqueólogo para os trabalhos de prospecção na Sacristia, porém isso iria onerar a caixa e a idéia acabou sendo abolida.
Na época de sua construção, o piso da igreja era feito em um sistema de “campa” (retângulos de madeira removível), pois os moradores da localidade eram enterrados dentro da Igreja, e os escravos, em seu Adro, por isso, durante a reforma do piso, foram encontradas várias ossadas e vestígios humanos (cabelos, dentes, etc.).
No Adro, ao lado da escadaria de acesso, existe uma pedra com inscrição, “R N M 11-05-1891” (iniciais e data de falecimento), que é a lápide do túmulo de Raimundo Nonato Drumond.
Uma das grandes surpresas encontradas durante a restauração, foram os fragmentos de dois painéis, todo em tons de azuis, que existiram nas laterais do Altar – Mor, de pintura em estilo rococó e de alta qualidade.
Há exemplos desse tipo de obras em outras igrejas, dentro do mesmo padrão e que ainda conservam o estilo original dos painéis, que é uma imitação de azulejos, como se fosse uma história em quadrinhos. Um dos painéis encontrados fala sobre o Antigo Testamento, e o outro, sobre os Sacramentos. No início do século XX, por modismo e com a ampliação da construção, em vez de manter as laterais do Altar – Mor fechadas, abriram arcadas para que dessem visibilidade aos corredores laterais, pois poderiam, assim, serem usados para que as pessoas assistissem à missa, ampliando o espaço útil da Igreja. Era onde ficavam os painéis.
As pinturas existentes nos forros da nave e da Capela- Mor, feitas por artistas anônimos, também foram recuperadas. Não foi encontrado nenhum documento sobre as pinturas.
A pedra de mármore branco localizada no piso defronte ao retábulo-mor, é a lápide da sepultura do Coronel João Gualberto. Apesar de ter falecido e ter sido enterrado em Florália, por ser considerado ilustre na cidade (Nova Era), posteriormente, seus restos mortais foram exumados e traslados para a Igreja Matriz de São José.
O retábulo-mor em estilo rococó é de autoria de Francisco Vieira Servas (1720-1811), natural de Portugal (Sam Paio de Eira Vedra, Concelho de Vieira, Comarca Guimarães, Arcebispado de Braga), filho de Domingos Vieira e Thereza Vieira. Servas faleceu em São Domingos do Prata, onde residiu em seus últimos anos. Seu atestado de óbito anexado ao testamento, registrado em Catas Altas, consta: “Aos dezessete de julho de mil oitocentos e onze faleceu com todos os Sacramentos Francisco Vieira Servas, homem branco, solteiro, natural de Portugal e com Solene Testamento: foi encomendado, e Sepultado dentro da Capella de Sam Domingos do Prata.
A autoria foi dada a Servas por uma série de fatores e comparação analítica. Entalhador português, do período Rococó, deixou magníficas obras em todo ciclo de ouro de Minas Gerais, ganhando grande destaque em sua época. Servas trabalhou, entre outras localidades, em São Gonçalo do Rio Abaixo, Rio Piracicaba, Ouro Preto, Mariana, Caeté, Santa Bárbara, Congonhas do Campo e Nova Era.
Você sabia que a Igreja Matriz São José da Lagoa recebeu a visita de um Presidente?
Por ocasião da Inauguração da Ponte Benedito Valadares em 13 de maio de 1940, esteve presente na cidade o Presidente da República Getúlio Dorneles Vargas e o Governador de Minas Gerais Benedito Valadares Ribeiro. Na oportunidade toda a comitiva visitou a igreja.
Fonte:
Almanaque Nova Era – 294 anos, 1999.
Revisão de texto e depoimento: Coordenador da restauração da Igreja Matriz São José da Lagoa – Eustáquio Elvécio da Silva – 2012.
IV Anuário do Museu da Inconfidência.
Livro de óbitos da Freguesia de São Miguel de Piracicaba que servia em 1811.
Ouro Preto: Ministério da Educação e Saúde/ Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1955/57, fl. 308 v.segs.
Organização: Departamento Municipal de Cultura e Turismo de Nova Era
por Institucional