Corporação Musical Euterpe Lagoana
Publicado em 30/10/2017 10:09 - Atualizado em 30/10/2017 10:38
Corporação Musical Euterpe Lagoana
80 anos de amor e dedicação à música
A Corporação Musical Euterpe Lagoana, foi fundada em 08 de Outubro de 1.937. A sua sede está localizada à rua Padre Manoel, 158, Bairro Serra, Município de Nova Era – MG.
Por seu valor sociocultural e de significância cultural após a conclusão do processo de Registro do Bem, o Departamento Municipal de Cultura e Turismo, o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Nova Era (COMPHANE) e a comunidade se mostrarem favoráveis ao Registro do Bem Imaterial Corporação Musical Euterpe Lagoana foi Registrada no Livro de Registro das Formas de Expressão em 01/04/2015; pag53, n°02, Decreto n°1868/20015 e sujeito a proteção especial de acordo com a Lei Municipal n°158/2001. Por seu valor histórico e cultural, marcado por elementos de uma prática cultural que remonta a tradição, costumes e representações. Por ser centro de atividade musical mais importante do município, que rearticulam o legado junto à sociedade, na manutenção da tradição, pautada na construção pessoal e coletiva dos seus membros.
É constituída atualmente por 25 componentes, entre homens e mulheres.
A faixa etária é bem diferenciada.
Todos os músicos são voluntários e têm três ou mais ensaios por mês.Tendo uma média de 60 apresentações por ano na cidade e em outras regiões.
A Corporação Musical Euterpe Lagoana utiliza instrumentos variados: sax tenor, trombone de vara, sax alto, bombardão, clarinete, bombardino, trompete, trombone de pisto, barítono, requinta, sax horns.
Fazem parte do repertório da Banda, música popular brasileira, hinos, música internacional, regional, religiosa, dobrados e marchas. Executa também músicas do “Repertório de Ouro das Bandas de Música do Brasil” editado pela FUNARTE. Possui também arranjos próprios e composições de componentes da Banda.
Tendo presença ativa junto à comunidade, ao longo de seus 80 anos de existência, tem como objetivo, disseminar a arte musical, através da execução de melodias que embelezam de maneira especial os eventos culturais (datas cívicas, religiosas, populares, retretas e outros), contribuindo como enriquecedor elemento cultural.
A Corporação Musical Euterpe Lagoana possui alunos em formação e treinamento na própria sede. Alunos com uma faixa etária diversificada, em sua maioria estudantes.
Corporação Musical Euterpe Lagoana:
Legado Cultural de idealismo e amor à música
No período colonial deste país houve atividades artístico-musicais de grande valor.
Eram comuns pequenos agrupamentos musicais, geralmente formados por escravos ou negros livres.
No ponto latente da Capitania Geral de Minas Gerais ( século XVIII e início do século XIX) – região hoje denominada “ Ciclo do Ouro” – aconteceu um surto musical sem precedentes deste os primórdios das sociedades beneficiadas pelo ouro e pelos diamantes: a eclosão da “ sociedade mulata” fazendo surgir uma “Escola de compositores – Músicos Mulatos”, hoje conhecida internacionalmente cujo profissionalismo esmerado se compara em riqueza e criatividade ao dos grandes mestres europeus. Avançada e pioneira no uso de certos elementos e técnicas de composição, foi absorvida por ser a música considerada indispensável em qualquer das exuberantes festas religiosas tão freqüentes, complemento ao efeito cênico da liturgia barroca.
Com a decadência da mineração e conseqüência dos recursos das irmandades religiosas, os agrupamentos musicais do século XVIII e do início do século XIX perdem o profissionalismo e vão desaparecendo, e o gênero musical erudito ( barroco ) desta época aos poucos cai no esquecimento.
Em seguida foram aparecendo sempre mais instrumentos de metal em substituição ao aboé, a flauta, fagote e viola. A família de sax horns, o oficicle, a trombeta com pistões e o trombone de vara, fazem surgir outro gênero musical, mais popular, a “ A Música de Banda”, incorporada à vida das comunidades e ao calendário da igreja. Mas algumas corporações musicais em nosso estado ainda preservam as suas raízes erutidas oriundas do século XVIII e XIX, a exemplo, das centenárias corporações musicais (orquestras) existentes na região de São João Del Rei ainda em plena atividade.
A banda é um conjunto musical geralmente composto por instrumentos de sopro (trompas, trombones, clarinetes, flautas, saxofones) e percussão ( caixas, bombos, pratos). Muitos de seus instrumentos têm sua origem naqueles que na antiguidade eram usados pelos exércitos para transmitir sinais ou estimular soldados ( cornetas, trompas, tambores, etc).
Floresce o Arraial de São José da Lagoa
A igreja era o centro do universo dos arraiais plantados nos ermos das Minas Gerais, e a música era considerada indispensável às festas, tão freqüentes, embora não tenha ainda levantado registros referentes à vida musical dos primórdios do arraial de São José da Lagoa – arraial de raízes semelhantes à de quase todos em nosso estado. A região se tornou um próspero centro de mineração, fator primordial para a fixação dos primeiros moradores.
As atividades artístico-musicais, certamente, aqui também aconteceram no decorrer de fins do século XVIII e XIX, quando o arraial já florescia – as sesmarias já com as suas sólidas casas-sede e capelas, e a capela do padroeiro São José, que hoje é matriz, se erguia altiva na paisagem; certamente seu coro abrigara instrumentos e cantores preenchendo-se de melodiosa contrição a sua nave.
Em 1750, era Capela Curada da freguesia de Rio Piracicaba depois de ter estado eclesiasticamente subordinada a Caeté e, posteriormente a Santa Bárbara.
Ainda como Capela Curada, passou a subordinar-se à freguesia de Antônio Dias, pelo decreto de regência de 14 de julho de 1832.
Criação da Paróquia
Finalmente, em 09 de outubro de 1848, pela Provincial 384, foi criada a Paróquia de São José da Lagoa e elevado o Arraial à categoria de Distrito, pertencente à 1ª Vara de Sabará e depois à de Antônio Dias. O primeiro pároco, o Padre João Alves Martins da Costa, foi apresentado por carta imperial em 09 de outubro de 1849.
Emancipação do Antigo Arraial
O antigo Arraial de São José da Lagoa, em 1923, subordina-se, por Lei Estadual nº 843, ao Distrito de Itabira, situação já presente na divisão administrativa de 1911 e quadros do recenseamento Geral de 1920.
Em 1938, pelo decreto Lei Estadual nº148, que estatuiu a divisão judiciária administrativa do estado, foi criado o município de Presidente Vargas, com um só distrito, o da sede, São José da Lagoa, que perde o antigo nome e é desmembrado de Itabira. O Decreto-Lei 839, de 1942, muda a denominação Presidente Vargas para Nova Era.
Resgate da Memória Musical
Sabe-se, com testemunhos, que, por muitos anos, existiu sob a guarda da Corporação Musical Euterpe Lagoana duas caixas contento documentos e antigas partituras de origem ignorada que, na década de 50, por serem consideradas entulhos, foram incineradas, destruindo-se irreparavelmente referencias da vida musical nos primórdios do Arraial São José da Lagoa.
Até o momento o mais antigo registro de compra de instrumento localizado é de 1932. Trata-se da aquisição de um harmonium no valor de 3.600,00 ( três contos e seiscentos mil reis), oferecido a São José por um grupo de devotos ( quinze ), sendo pároco Padre Benedito de Lucas.
Através da informação oral, registro a existência de um harmonium, na “casa da rua de trás” ( hoje Rua Gaspar de Morais – a referida casa não existe mais), nas duas primeiras décadas deste século. Instrumento que era executado por José Monteiro de Morais ( Juquinha Gaspar) que também tocava violão, sanfona, bandolin e violino.
Alem da Corporação Musical Euterpe Lagoana que ainda sobrevive, objeto de estudo no presente, através da tradição oral e de vários registros, sabemos que outras duas existiram. A Corporação Musical São Sebastião, que era popularmente conhecida como “ Banda da Pedra Furada “, fundada aproximadamente em 1928, por José Felix Eleutério, o Zezinho, grande líder e primeiro maestro, que fora um dos membros da Euterpe Lagoana nos seus primeiros anos de existência, não restando duvida de que os seus mestres foram Ilídio Cassimiro Costa e Otaviano Augusto Costa. A “Banda da Pedra Furada” era constituída na sua grande maioria de garimpeiros e lavradores. Sobreviveu por pouco tempo, 15 anos aproximadamente, se extingue pouco tempo depois da morte (25/06/1939 – 37 anos) do seu fundador. ( a Banda Flor de São José que era popularmente conhecida como Banda Flor, certamente deveria denominar-se Sociedade ou Corporação Musical Flor de São José . Até o momento só foi localizado um único registro que lhe faz alusões documentando a sua participação na festa de Corpus Christi, em 1937, atestando dessa forma que nessa data ela ainda não só sobrevivia, mas que também se encontrava em plena atividade: “ os alunos do Grupo Escolar Desembargador Drumond”, acompanhados pela Banda Flor de São José, se incumbiram da cantoria e desempenharam muito bem o seu papel. À duas e trinta da tarde, houve a soleníssima procissão, na seguinte ordem: Cruz Profissional, Homens ( em alas de três ), Moços( em alas de quatro), Banda de Música Flor de São José regida pelo Maestro Waldemiro Cardoso... os anjinho, guarda de honra, pállio e banda de música( Corporação Musical Euterpe Lagoana), regida pelo maestro Antônio Gonçalves... o povo, ali prostrado, prorrompeu em vivas a Nossa Senhora do Sacramento...aplaudindo delirantemente enquanto as duas bandas tocavam o Hino do 2º Congresso Eucarístico Nacional.
Os fragmentos mencionados são de suma importância pois anulam a minha conclusão anterior de que a Banda Flor de São José, estivesse desaparecido logo após o falecimento de Geraldino Cardoso, o mestre Dino, o seu grande líder e maestro por muitos anos, revelando que o seu filho Waldemiro Cardoso o sucedeu na regência.
O Mestre Dino tornou-se conhecido em toda região como pistonista de raro sopro. Teve a oportunidade como pistonista, de se apresentar no Rio de Janeiro levado por Oscar de Araújo. A Banda Flor nos seu últimos anos de existência era composta quase que exclusivamente pro sapateiros, que trabalharam para o Sr. Oscar de Araújo próspero comerciante estabelecido nesta praça e um dos influentes chefes da polícia loca. A origem dessa Corporação Musical ainda não foi levantada, mas entre as três bandas mencionadas trata-se da mais antiga.
Corporação Musical Euterpe Lagoana
Até o momento, referentes à Corporação Musical Euterpe Lagoana, raros documentos foram localizados, o livro de ata anterior ao ano de 1974 se perdera sendo o seu paradeiro ignorado. Mas sem dúvida podemos informar tomando base a coincidência de referências comuns em inúmeros depoimentos, subsídios, que embora mínimos avalizam traçar o perfil desta tradicional Corporação e elucidar a questão de seu cinqüentenário que comemorou-se no dia 08 de outubro de 1987. Como também afirmar que a iniciativa de formar uma nova banda de música se deu em 1917. Iniciativa do mestre Ilídio Cassimiro Costa, que congregou em torno dessa idéia, além dos três filhos (Ilídio Clementino Costa, Otaviano Augusto Costa, João Serapião Costa), jovens músicos, para uma aprendizagem minuciosa e uma disciplina rígida, sob a regência de seu filho Otaviano Augusto Costa, arte em que este se notabilizou, surgindo daí a Corporação Musical Euterpe Lagoana, banda e coro de vozes mistas, da qual o Maestro Otaviano Augusto Costa ficou à frente até 1930. O Mestre Ilídio faleceu em 17 de outubro de 1921, aos 65 anos, e é sem dúvida alguma o grande patrono dessa corporação.
Elucidações sobre o aniversário da Corporação
O mais antigo documento localizado (1919), refere-se à sociedade anônima Corporação Musical Euterpe Lagoana, fundada em 17 de agosto de 1919, com um capital inicial de Rs2.000$000( dois contos de reis ) divididos em ações de 10,20 e 50$000(dez, vinte e cinqüenta mil reis ). A grande importância deste documento é a de revelar que o agrupamento musical em torno do mestre Ilídio Cassimiro Costa se solidificava já em 1919: estruturava-se juridicamente como sociedade anônima tendo como membros de sua diretoria cidadãos da mais alta representativa do meio político social e econômico do Arraial de São José da Lagoa – Presidente: Oscar de Araújo, Secretário: José Máximo Bruzzi, Tesoureiro: Artur Quintão Vidigal.
O documento em questão é uma ação no valor de Rs50$000( cinqüenta mil reis ) ver reprodução nesta página.
Tomando por data-base 1917 o que é coerente que tem o respaldo da tradição oral, a Corporação Musical Euterpe Lagoana estaria hoje com 90 anos.
Renegando a tradição oral e apoiando publicamente no documento acima analisado a que refere a Corporação Musical Euterpe Lagoana – Sociedade Anônima fundada em 17 de agosto de 1919 – essa corporação teria completado em 17 de agosto – 87, 68 anos.
Voltando ao documento de 1919 interpreto que a solução jurídica nele determina – Sociedade Anônima – para ao agrupamento musical recém-constituído a condição e proporcionar o seu dinamismo e crescimento foi uma solução avançada para a época. Considerando-se o pacato Arraial São José da Lagoa esta solução jurídica não deu certo.
Se a primeira tentativa de assegurar ao agrupamento musical a condição de entidade jurídica, que deveria gerar recursos para sua manutenção e crescimento, não funcionou, uma nova solução teria que ser encontrada mas isso só aconteceu no ano de 1944.
Com a emancipação política do arraial São José da Lagoa ocorrido em 1938 apresentam-se novas perspectivas para o desenvolvimento da vida comunitária. A conselho de Arlindo Cardoso, tabelião do cartório de 2º Ofício, o maestro Antônio Gonçalves Dias para regularizar a situação jurídica da banda, para que ela passasse a receber subvenções dos órgãos públicos para sua manutenção transformou a sociedade anônima em sociedade musical passando essa a receber mínimos recursos da prefeitura municipal em raras vezes de órgãos da esfera estadual e federal. Fato consumado em 05 de março 1944, estatuto registrado no cartório de 2ºofício sub o número de ordem 18, nº01, as páginas 21 e 204.
A Corporação Musical Euterpe Lagoana – Sociedade anônima, a partir de 1944, passou a denominar-se juridicamente, Sociedade Musical Euterpe Lagoana, ficando assim constituída a sua primeira diretoria para o mandato de 02 anos: Presidente- Antônio Gonçalves Dias, Secretário- Sebastião Ignes Pinto, Tesoureiro – Olimpio Gomes Nello, Procurador- Dimaz Anacleto da Silva. Conselheiros: Alírio Martins da Costa, José Coelho de Lima, José de Lima Bruzzi.
Apoiando-se no artigo 1º do aludido estatuto se esclarece a polêmica questão do cinqüentenário. A informação ali contida somadas ao subsídios de alguns depoimentos alucida essa questão, favorecendo a interpretação e análise dos fatos. O seu artigo 1º transcrito na íntegra diz o seguinte:” fica criada a sociedade musical ‘ Euterpe Lagoana’ ” fundada aos 08 de outubro do ano de 1937, nessa cidade de Nova Era, estado de Minas Gerais, onde tem a sua sede e passa a reger-se por este estatuto. A data contida na afirmação: “ fundada aos 08 de outubro de 1937”, revestia-se de um certo significado para os componentes desta corporação em 1944, pois após passar por um período de decadência, reestrutura novamente em 1937, daí a razão de ser mencionada no estatuto como data de sua fundação, situação as vezes comum nas história de instituições. Em 24 de maio de 1961, em Assembléia, foi aprovada a reformulação do estatuto e a mudança de sua denominação: Sociedade Musical Euterpe Lagoana para Corporação Musical Euterpe Lagoana, recuperando assim a sua denominação primeira( registro nº15, folhas 16, livro A, Livro de registro civil - Nova Era), tratou-se uma questão simbólica a comemoração do cinqüentenário almejando homenagear essa existência cultural que é a banda de música em seu todo, resgatando na medida do possível a sua memória proporcionando o seu confronto real com a comunidade frente a um patrimônio artístico e musical e precisa ser preservado. Seus problemas atuais, os mesmos que ao longo dos seus 90 anos de existência as várias gerações de seus integrantes e líderes enfrentaram e enfrentam, fazem sua história de persistência apesar do descaso das autoridades, e às vezes da indiferença da comunidade.
A homenagem a todos aqueles que se incluam nesses 70 anos de história, estando eles no anonimato ou não, e da sobrevivência da Corporação Musical Euterpe Lagoana, fazendo com que a caminhada continue levando às gerações futuras este legado cultural de idealismo e de amor a música.
Depoimento
“ Meu tempo de menina passou entre música, escola e trançar chapéu de palha ( para ganhar alguns trocados) e ainda sobrava tempo para brincar”.
Ana Teodora de Miranda a carinhosa Donana de Fanico, nasceu a 09 de novembro de 1907. Natural de Rio Casca transferiu-se juntamente com seus pais ( Francisco Fernandes de Miranda e Cecília Maria de Jesus), para o arraial São José da Lagoa em 1910, aos 03 anos de idade.
Em 1919 foi convidada pelo maestro, Otaviano para participar o coral da Corporação Musical Euterpe Lagoana. Diz Donana que os ensaios e as aulas de músicas eram ministradas na residência do Otaviano, um velho sobrado na rua do Comércio( hoje Rua Governador Valadares, 101 embora tenha passado por várias reformas encontra-se de pé), o Otaviano residia no andar superior onde acontecia os ensaios da banda e o mestre Ilidio Cassimiro da Costa lecionava e ensaiava o coral. No andar térreo Otaviano tinha um pequeno comércio, umas mesas de bilhar e a sua cadeira de barbeiro. O uniforme de nesta época era branco e cada um comprava o seu, como também os instrumentos sendo que os mais caros quando o músico não tinha condição para adquiri-lo sempre contava com alguma ajuda dos colegas músicos ou mesmo de pessoas da comunidade.
Em sua conversa carinhosa e tranqüila projeta a sua memória dos tempos idos, descrevendo-se minuciosamente, principalmente as festas religiosas em que participava como cantora-integrante da Corporação Musical Euterpe Lagoana. Num esforço de memória recorda alguns nomes dos primeiros componentes desta corporação, da turma que nela se encontrava em 1921 dizendo “ eu fazia a primeira voz” especificando: Ilídio Clementino Costa, Otaviano Augusto Costa, João Serapião Costa, José Flades, Mário Carvalho, Alvim Vitorino, Dr. Joaquim de Assis Lage, Péricles, José Crispim , José Inocêncio, Antônio Gonçalves Laranjeiras( Nono), José Felix Eleutério, José Alexandrino, Joaquim Batista, Francisco Gomes, José Gomes e José Rosa.
Componentes do Coral: 1ª voz- Ana Teodora de Miranda ( Donana), Ana Gervásio e Cecília ( filha de Manuel Padeiro e Sá Costa da Cruz). 2ª voz – Madalena ( filha de Maria das Neves), Vicentina ( filha de seu Chico Pinto e Dona Maria ) e Niguita.
Baixo – Alvim Vitorino.
Tenor – Antônio Firmiano.
Ela disse que a disciplina era severa, ensaios e aulas quase todos os dias, pois tinham que estar sempre preparados para atender às necessidades da igreja, e a maior parte da cantoria era em latim. “ Missa cantada” e festas aconteciam durante todo o ano, na semana santa o coral tinha que estar afinado para a via sacra. No mês de maio a banda saía todos os dias da casa do festeiro à frente e o estandarte de Nossa Senhora, Anjos, Virgens e acompanhantes e muitos fogos. Rezas e coroações, benção solene do santíssimo sacramento e leilões todos os dias.
A banda era contratada pelo festeiro e uma parte do pagamento era dividida entre os participantes, o Rs10.$000( dez mil reis para cada um). As missas mais comuns do repertório eram: Missa de São José e Missa Nossa Senhora de Lourdes composta por Chico Conrado.
Casou-se em 1922 aos 15 anos com Afrânio Vitorino da Silva, e diz que mesmo depois de casada continuou participando do coral por muito tempo. Com o crescimento da família foi diminuindo a participação passando a ser só esporadicamente sendo a ultima vez em 1937, em uma via sacra pelas ruas do arraial. Recordando o carnaval de 1922 ela nos fala que foi muito concorrido. O artista Alfredo Cânfora organizou o carnaval das classes mais favorecidas com seu fascinantes caros alegóricos e no entanto, a banda participou do carnaval do pobres, e que a animação foi total.
Entre uma conversa e outra Donana vai dedilhando o seu antigo bandolim. Fala dos filhos e dos netos por alguns momentos se perde em algumas lembranças tristes a transforma, seus olhos brilham, querendo roubar a sua alegria que ela rapidamente supera, voltando a sorrir, transparecendo toda uma meiguice e alegria que as dores desta vida não conseguiram destruir, dizendo que o seu bandolim não segura mais afinação precisa de conserto. Vai solando uma valsa, em sua sonoridade vamos nos sentindo distante no sentido distantes e presentes em um tempo.
Diz que o primeiro bandolim que ela possuiu foi comprado por vinte e cinco mil réis na mão de Juquinha Gaspar. Recurso obtido com a venda da parte que lhe coube de um porco que ela engordou a meia.
O que ela conserva foi trocado por um relógio na rifa com Sinval Silvério, que o tinha adquirido.
( Elvécio Eustáquio da Silva )
Bibliografia:
- Curt Lang, o Descobridor, suplemento Literário de Minas Gerais 16 de junho -1973
-“ O Milagre do Barroco Mulato”, Júlio Medaglia Suplemento Literário do Estado de São Paulo 10 de julho -1965
- Conhecer Universal nº03 Editora Abril
- Contra capa dos discos: Encontro Barroco e 2º Conserto de Natal da Belgo Mineira ( Encontro Barroco) 1985.
- Arquivos: Museu de Arte e História e da Paróquia de São José da Lagoa - Nova Era.
- Livros de óbitos/ Cartório de registro civil 1939 e de 1954
- Livros de óbitos / Prefeitura Municipal de Nova Era 1921-1954
- Jornal Vaga Lume nº09, junho -85
Informantes:
Ana Teodora de Miranda
Dr. Joaquim de Assis Lage
Dimas Anacleto da Silva
José Cornélio Cardoso
Ely de Araújo
Na trilha da memória musical de Nova Era
Da memória musical de Nova Era ( ainda um tanto obscura ), aos poucos vai se emergindo vultos surpreendentes como Otaviano Costa – um dos primeiros integrantes e maestro da Corporação Musical Euterpe Lagoana. Filho de Ilídio Clementino Costa e de Leopoldina Maria das Neves, nasceu em Rio Piracicaba em 22 de agosto de 1881 e casou-se em 07.09.1911, com Maria Marta de Oliveira. Morreu em 03 de maio de 1969.
Ele projetou-se não só no cenário musical como músico, maestro e compositor. Em seu tempo integrou-se à dinâmica da comunidade em múltiplas atividades e tinha uma certa visão do amanhã.
De seu punho saía o jornal manuscrito o “Sapinho” ( alguns exemplares ainda existem conservados no Museu Municipal de Arte e História de Nova Era) do qual ele foi editor e redator chefe, sendo este o mais antigo jornal que aqui circulou de que temos notícia ( 1904-1905). Foi comerciante, seleiro e barbeiro. Aprendera a ler com o notável Mestre Colem, aqui no arraial de São José da Lagoa. Foi um homem caridoso e despido de preconceitos vigentes em sua época. Fundou a “Caixa Protetora dos Pobres”, atendendo às pessoas marginalizadas, às quais as outras instituições existentes negavam ajuda e solidariedade. Exerceu também aqui, como seu pai, o cargo de Delegado de Polícia.
A sobrevivência da Corporação Musical Euterpe Lagoana muito lhe deve. Ele sempre a revitalizava convidando músicos de outras cidades, nos quais ele oferecia moradia, e muitas vezes os custeava por algum tempo, até ver solucionando o problema de sobrevivência. E a banda alegrava o coração do pacato arraial,retreta todos os domingos no Morro do Cruzeiro.
Depoimentos
Dimas Anacleto da Silva, filho de José Inocêncio / Maria Clementina de Souza, casado com Doralice Machado da Silva., 65 anos profissão pedreiro.
Ele revive nesta página um pouco de sua vivência, rica memória da qual registramos fragmentos.
Embora hoje sossegado em seu canto, relembra sua infância e juventude vividas intensamente, fatos que ainda estão vivos em sua memória, em particular os do universo musical de Nova Era.
Recordando a religiosidade da casa paterna conta que seu pai – o saudoso José Inocêncio – fervoroso devoto de Nossa Senhora do Rosário, todas as noites , por volta das 19 horas, reunia a família para rezar um terço e o Ofício a Nossa Senhora ( de joelho o primeiro mistério e o quinto e, para o velho, nada justificava a falta com dever deste momento de oração).
Mas o ambiente do clãs era totalmente musical, sons de instrumentos e vozes dia e noite, principalmente aos domingos, feriados e dias santos. Músicos da cidade lá se reuniam, instrumentistas de sopro e corda, como também os apaixonados cantores de modinha. Sua mãe tocava violão, as irmãs também aprenderam música e a Nenzinha tocava bandolim.
Sacristão dos 07 aos 19 anos, iniciou com o vigário padre José Lopes, ajudando também o padre Manuel na capela de Santa Rita, encerrando estas atividades no tempo do vigário padre Benedito de Lucas.
Revela que a sua maior alegria neste período era bater sino. Sempre correndo ladeira abaixo, ladeira acima. Batia sino às 06 horas da manhã, ao meio dia e às 18 horas, todos os dias, sem os domingos e dias santos quando batia sino o dia todo, para missas e rezas. Para missa batia o sino 03 vezes: a 1º, a entrada e a entradinha. Suas maiores emoções eram os sermões e a Benção do Santíssimo Sacramento todos os domingos, com muito ritual, cantoria e incenso. No dia 31 de dezembro, era cerimônia especial com “TE DEUM”. Os mestres de “cantoria” Ozório e Chico Conrado são lembrados.
A vida de criança no velho arraial era brincar de “garrafão”, ficar apreciando grupos de “desafios”. Assistir aos Seriados no Cinema de Sô Chel, era a grande sensação ( Trilhos da Morte, Avião Fantasma, Arqueiro Verde, Falcão Mascarado). Entre outros os filmes que deixaram saudades: Hotel Imperial e o Prisioneiro de Zenda. “ E o mais importante é que era cinema era mudo, e eu já participava da orquestra que fazia fundo musical para as projeções. Para suprir esta necessidade a orquestra foi organizada com componentes da nossa banda Euterpe Lagoana, acrescida com instrumentos de corda – Sir M. Maluf, ora ao bandolim , ora ao violino. Tocávamos também para a Companhia Ribamar (do Rio de Janeiro) que por aqui passou algumas vezes, e no cine-teatro dava os seus espetáculos”.
Diz Dimas que em sua infância por duas vezes foi príncipe no Congado, e que depois se integrou a ele por 07 anos. E que iniciou na Corporação Musical Euterpe Lagoana em 1932, aos 11 anos de idade, batendo tarol, passando por vários instrumentos até optar, definitivamente pelo saxofone, e se manteve como integrante dessa corporação até a década de 70. E que seus irmãos também nela se ingressaram:
Olímpio Gomes da Silva ( Pistom ) em 1933 e Antônio Gomes da Silva ( saxfone alto ) em 1943. Além dele dois irmãos, filhos, sobrinhos e vários primos também participaram e no início da banda, dois tios: José Olímpio Gomes e Francisco de Souza Gomes. Seu pai nela já se encontrava desde 1921e aprendera música com o mestre Ilido Cassimiro Costa.
Em 1932 se deu a sua primeira participação nas apresentações da banda em animados bailes de carnaval, no “Elite do Clube’, recém fundado pelo Sr. Barbosa , que veio do Rio de Janeiro. Depois o Elite passou a se chamar Automóvel Clube. A sede do Elite era no prédio onde funciona hoje a farmácia Barros. As músicas de maior sucesso: Seu Cabelo não nega Mulata, Meu consolo é você, Salve o Carnaval do Brasil, etc. Para compor o uniforme da corporação - cáque com botões dourados- os músicos compraram fiado botinas na venda de Sô Oscar de Araújo.
Nas festas religiosas a banda estava sempre presente, mas as únicas em que lês tocava de graça era na do Padroeiro e na de Corpus Christi, e por festa a banda recebia dois contos de réis.
Na Residência do Sr. Otaviano Costa, sobrado à rua Governador Valadares, hoje ainda existe o nº101, aconteceram as aulas de música e os primeiros ensaios da Euterpe. Já no meu tempo, os ensaios eram nos fundos do bar do mestre Otaviano, onde hoje se localiza a Farmácia São José.
Ma em 37, o maestro Antônio Gonçalves Dias transfere a banda para o velho Casarão que também ainda existe, situado a rua Governador Valadares, 667, onde permaneceu até 1945. O aluguel deste imóvel era pago com contribuições dos próprios músicos. Em 1937 na festa de Nossa Senhora da Conceição ( 08 de dezembro) foi feita a benção de novos instrumentos e dos antigos que foram reformados e niquelados, pelo Pároco Pedro Maciel Vidigal . A Missa cantada foi regida pelo maestro Antônio Gonçalves Dias - banda e coro ( quando estreiaram uniforme branco com botões dourados). Do coral participava Terezinha de Brito, Maria Malta, Antonieta Bonifácio, Elizinha Bonifácio, Osório Sérgio. Após a cerimônia Padre Pedro ofertou pequena lembrança a cada músico: uma medalhinha de no Nossa Senhora da Conceição, a que seu irmão Olímpio conservava por muitos anos.
A Banda sob a regência do Maestro Antônio Gonçalves, neste dia 08 estava composta pelos músicos: Guilherme da Cruz Leite (bombardine), José Cornélio Cardoso (saxofone), José dos Reis Marques (Sax alto mi bemol), José Inocêncio da Silva (barítono), Sebastião Gonçalves - tão (trombone pisto), Sebastião Ignez Pinto (clarineta), Lindolfo Faustino(pistom), José Bruno (contra-baixo), Ismael Cirino da Costa (sax pisto), Ilídio Benevenuto Costa (clarineta), Olímpio Gomes da Silva(pistom), José Alexandrino(bumbo), Dimas Anacleto da Silva (tarol), Joaquim Batista (prato), José Anacleto(surdo), Antônio Roque – Nico (clarineta ).
Em 1938 quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo (a segunda), jogando com a Itália, sagrando-se vice campeão, Antônio Gonçalves colocou a Banda na Praça, executando o dobrado, “ Brasileiros na Itália”. Em 37 e 38, ela animou os primeiros bailes de carnaval promovidos e João Monlevade.
Em 1945, cai ditadura getulista. O maestro Antônio Gonçalves afastou-se da regência da corporação( mas continuou na presidência ) e se ingressou na política. Junto com demais correligionários criou o PTB no município. E na primeira eleição a cargos eletivos municipais ( os prefeitos anteriores eram nomeados), o PTB disputa lançando para prefeito João Batista Lodi e Afrânio Vitorino da Silva. Mas o PSD é que saiu vitorioso elegendo Dr. Leão de Araújo.
Fonte:
Ângelo Costa, Dimas Anacleto da Silva, Elvécio Eustáquio da Silva.
Acervo do Departamento Municipal de Cultura e Turismo
por Institucional